O relatório Retrato da Qualidade da Água nas Bacias Hidrográficas da Mata Atlântica elaborado pela Fundação SOS Mata Atlântica, lançado neste domingo (22) em celebração ao Dia Mundial da Água alertou para “a urgente necessidade de ações e investimentos voltados à segurança hídrica e socioambiental no Brasil”. O estudo indicou como solução para o problema “a universalização do saneamento básico integrado à ampliação dos espaços de participação social e a adoção de soluções baseadas na natureza, com a conservação dos ecossistemas e recuperação de florestas nativas”.

O relatório fez um panorama da qualidade da água de trechos de corpos d’água de março de 2019 a fevereiro de 2020. Durante doze meses do ciclo de monitoramento, grupos de voluntários coletaram e analisaram a qualidade da água de 181 trechos de rios e corpos d’água, distribuídos em 240 pontos de coleta, em 95 municípios dos 17 estados abrangidos pelo bioma Mata Atlântica e do Distrito Federal. 

O trabalho teve o acompanhamento e supervisão técnica da Fundação SOS Mata Atlântica. Os indicadores de qualidade da água foram obtidos em trabalho voluntário de 3.500 pessoas integrantes de 199 grupos de monitoramento do projeto Observando os Rios, patrocinado pela Ypê e com apoio da Sompo Seguros.

Do total de locais de coleta, 189 pontos analisados (78,8%) apresentaram índice de qualidade de água regular. Em 38 pontos (15,8%), a qualidade é ruim e, em um único ponto (0,4%), péssima. Segundo a Fundação só 12 pontos (5%) apresentam qualidade boa na média do ciclo de doze meses e nenhum dos rios e corpos d’água tem qualidade ótima. “Ou seja, 95% dos pontos monitorados apresentam qualidade da água longe do que a sociedade quer e necessita para os rios”, apontou a SOS Mata Atlântica.

Os dados mostraram que houve uma queda de 3% na comparação com o período anterior no índice ruim, o que ampliou o percentual dos pontos em situação regular de 76,5% para 79,5%. Os dados comparativos se baseiam nos resultados obtidos em 200 pontos fixos de monitoramento e não do total de 240 monitorados, porque teve como referência as séries históricas e recorrentes.

Para a Fundação, o resultado estável na condição regular “é muito preocupante diante do cenário atual de eventos climáticos extremos”, o que exigiria a existência de rios com qualidade de água boa na média do período, para enfrentamento das variações drásticas de clima e vazões que interferem diretamente na qualidade e na disponibilidade de água.

A gerente da causa Água Limpa, da Fundação SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro, destacou que a situação da água do Brasil não vem melhorando de forma considerável nos últimos anos e os esforços feitos não têm apresentado grandes resultados. “Há alguns exemplos distribuídos pelo país, como demonstram esses dados, e que devem ser usados como modelo, reforçando que, quando há um investimento contínuo e bem planejado, é possível sucesso”, disse.

Na visão de Malu Ribeiro esse é o momento de acender a luz amarela. “Todo ano falamos que nossos rios estão na UTI [Unidade de Tratamento Intensiva] e se não houver ações que tratem da gestão integrada da água como elemento de cooperação e sustentabilidade e, sobretudo, de inclusão e participação ativa nos espaços de tomada de decisão, o cenário pode piorar”, completou.

A qualidade de água péssima e ruim em 16,3% dos pontos monitorados aponta que por conta da poluição e da precária condição ambiental das suas bacias hidrográficas, 39 trechos de rios estão indisponíveis com água imprópria para uso. Conforme a SOS Mata Atlântica, essa falta de condição ambiental gera problemas de saúde pública e agrava cenários de escassez e insegurança hídrica.

Os dados mostraram que a qualidade de água boa, na média, foi encontrada em 11 pontos de coleta: 1 no rio Coruripe, em Alagoas; 1 na Lagoa do Flamengo, em Salvador, Bahia; 3 na Lagoa dos Monsarás e rio das Pedras, em Linhares e no córrego Cupido, em Sooretama, no Espírito Santo; 1 no córrego Água Limpa e 2 pontos no rio Corumbá, no município de Água Limpa, em Goiás; 1 ponto no córrego Campina, em Bodoquena, em Mato Grosso do Sul; em dois pontos, no córrego Água Preta, no bairro Pompeia na capital e no rio Piraí, em Salto, em São Paulo.

A Fundação destacou a importância da conservação da floresta natural e das matas ciliares para perenidade dos recursos hídricos. “Essa agenda deve ser prioritária, considerando que grande parte da população brasileira vive nos domínios do bioma Mata Atlântica”.

Dessa forma, o projeto instrumentaliza e empodera os cidadãos para atuar e propor o aprimoramento das políticas públicas que impactam na gestão da água. Os grupos de monitoramento são formados por cidadãos representantes de diferentes instituições, como escolas, universidades, comunidades tradicionais, indígenas, ONGs (organizações não governamentais), movimentos sociais, grupos informais e comunitários, escoteiros, órgãos públicos e privados.

SOS Mata Atlântica

Criada em 1986, a Fundação SOS Mata Atlântica atua na promoção de políticas públicas para a conservação da Mata Atlântica por meio do monitoramento do bioma, produção de estudos, projetos demonstrativos, diálogo com setores públicos e privados, aprimoramento da legislação ambiental, comunicação e engajamento da sociedade em prol da restauração da floresta, valorização dos parques e reservas, água limpa e proteção do mar.

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