Cantor de Dourados esperou por 10 anos para comprar o chalé dos sonhos
Sem muros, de telhado que encosta no chão, não tem portão, campainha, esquina das ruas Lúcio Nunes Stein e Pedro Celestino, não tem quem não saiba quem mora ali. “É do Tim, cantor do Kikão”, respondeu um dos vizinhos à reportagem do Lado B.
De chapéu, como quem está pronto para um baile, Tim atende às batidas na porta. Músico na cidade desde 1975, Valentim Sgaravatti tem hoje 63 anos e acumula história de vida e canções na cidade de Dourados onde já se tornou folclore.
Nascido em Jales, interior de São Paulo, com 19 anos chegou à Dourados, mas não para cantar. E sim ser contra-baixista em uma banda. Cantor desde a “roça”, como costuma dizer, no primeiro baile com este grupo, um desentendimento entre o vocalista e o guitarrista lhe deu a oportunidade que precisava.
“Sempre fui assim, fora da casinha. Eu estava tocando, mas sabia o que acontecia em todos os instrumentos”, explica. Na ausência do vocal, foi ele quem assumiu o microfone e ao final do show, anunciou que não era preciso ir atrás de cantor, ele mesmo faria o papel.
Desde então, o repertório é o mesmo. “Tudo coisa do passado”, como faz questão de frisar. Sem nada que chegue perto do Universitário, o que Tim gosta é de cantar Roupa Nova, Rita Lee, Elba e Zé Ramalho e Fagner. E entre cantorias e shows, Tim também entrou para campanhas políticas e até hoje é o responsável pela sonorização da Câmara Municipal.
A casa – No estilo “chalé”, a casa que segundo o atual dono foi construída em 1977, demorou uma década para ser dele. Vontade ele tinha de sobra, mas era o bolso que lhe faltava. “Eu não tenho certeza se ela foi feita pelo Paulinho ou pelo Pesarino”, põe em cheque a origem. O que Tim sabe é que desde 1982 ele queria morar ali.
“Aí foi o seguinte, eu passava e gostava muito dela. Não tinha nada nesse bairro, a cidade se resumia só bem mais para baixo e eu me encantei com ela”, lembra. A primeira vez que ele chegou para comprar, não conseguiu. “Fiquei apaixonado na casa, simplezinha, do jeito que eu queria”, recorda.
Foi uma década de poupança e sorte. “Eu vinha vindo nessa rua e de lá, quando virei, vi a placa de vende-se. Pensei: vai ser agora. Peguei um alicate e arranquei a placa. Se eu não comprar, ninguém compra. Pus na caminhonete e fui para a imobiliária”, gargalha.
Em negociação direta com o dono, a proposta era de 70 milhões de cruzeiros, o dinheiro usado à época. “Vendi dois carros, uma chácara e usei o dinheiro de campanha”, conta. Faltaram ainda 20 milhões de cruzeiros, que ele pagou com o tempo e que teve adicionado os juros de 6 milhões.
“Por que eu gosto dela? Não sei, acho que em outra geração, outra vida, eu fui europeu. Gosto tanto de coisa da Europa… Não sei como morar em outra casa”, afirma.